O GP do Brasil foi o final perfeito para o ano da F1. Neste ano maluco, com essas regras artificiais, conseguiram fazer uma corrida chatíssima em Interlagos, o circuito mais legal da categoria.
Eu me dei muito mal… Me preparei a semana inteirinha para a “maratona esportiva” do domingo, que começava com o GP do Brasil no meu circuito preferido (ao lado de Spa-Francorchamps), Interlagos, e terminando com a “batalha” do Internacional contra o Flamengo, que poderia assegurar a vaga colorada na Libertadores 2012. Quanta decepção… Meu time perdeu o jogo, e a corrida foi muito chata.
Devo dizer que o fato da corrida ter sido ruim me deixou muito surpreso. Mesmo nos piores anos da F1, quando as “procissões” eram onipresentes durante a temporada inteira, o GP do Brasil sempre proporcionou grandes disputas, com diversas ultrapassagens.
Um circuito realmente especial, Interlagos ficou conhecida por ser exigente com pilotos, tanto por seu desafiador desenho, quanto pelo fato de a corrida ser disputada no sentido contrário da maior parte dos circuitos. Em um esporte que força muito a musculatura do pescoço, correr no sentido contrário requer uma preparação especial, além de provocar um desgaste a mais para os pilotos. Desgaste esse que já é grande por causa do calor e das chuvas que frequentemente caem na região. Isso que antigamente o GP era disputado em março, quando a água caía com vontade (como na música de Tom Jobim: “são as águas de março fechando o verão”…), e as chuvas eram muito mais presentes.
Mas Interlagos, ao contrário dos “tilkódromos” (circuitos desenhados pelo nefasto Hermann Tilke), tem vários pontos de ultrapassagem, além de curvas desafiadoras. É tipo “não tem como dar errado”… Não é que deu?
Longe de ser um GP da Hungria de 3 ou 4 anos atrás, foi uma corrida bem chatinha. Nada de disputas emocionantes, trocas de posição que significavam alguma coisa ou “brigas de facão”. Muito longe disso. O mais próximo disso foi uma disputa que não aconteceu, entre os “irmãos pedreira” Felipe Massa e Lewis Hamilton. Para completar a degraça, Charles Whiting ainda libera a permissão para abrir a asa móvel na reta errada…
Sebastian Vettel poderia ter vencido a corrida com uma roda amarrada nas costas. Porém, combinou um “teatrinho” com a equipe Red Bull (um suposto problema no câmbio) para deixar Mark Webber passar e ganhar a corrida, na esperança que algum problema tirasse de Jenson Button o vice-campeonato. Em vão, pois o “melhor do resto” Button fez mais uma “corridaça” e não deu chance para ninguém. Principalmente para Fernando Alonso, que nem um pódio conseguiu, com sua Ferrari Uno Mille…
Convenhamos: o melhor e mais confiável carro dos três últimos mundiais, com um dos pilotos que menos abandonam, ter problemas em duas corridas seguidas? Pior ainda: o câmbio estava ruim, Weber passou Vettel, e pouco tempo depois o alemão já estava “voando baixo” de novo, a ponto da equipe ter que lhe “lembrar” do problema de câmbio? Sei…
Vou postar uns “drops” para comentar a prova – “y otras cositas más”…
– O bando de urubús que fica agourando Sebastian Vettel é totalmente patético. “Ele ainda precisa mostrar que é bom com um carro ruim”… O cara venceu corrida com uma Toro Rosso!!! O Fernando Alonso nunca venceu corrida com a Minardi, não é? Ora, se enxerguem! Vettel, hoje, bota qualquer piloto do grid no chinelo, Fernando Alonso incluído. Quantas vezes Alonso errou neste ano? Várias, não é? E quantas Vettel errou?
– “A Red Bull é muito melhor que as outras”… Então por quê Mark Webber (que é comprovadamente bom piloto, apesar de não ser um fora-de-série) não é vice-campeão? Se o carro da Red Bull é tão bom como dizem, isso deveria ser natural… Gente, em várias provas o carro da Red Bull era bem inferior ao carro da McLaren e, em algumas ocasiões, até àquela porcaria que a Ferrari largou na pista neste ano. Só que a Red Bull tem um piloto que realmente faz a diferença. Aí parece muito fácil. Foi a mesma coisa quando Jenson Button ganhou o mundial de 2009. “O carro da Brawn era muito melhor que os outros”. Todo mundo esquece que a equipe fez um excelente carro, mas não tinha dinheiro para desenvolvê-lo durante a temporada,quando as outras equipes evoluíram muito. Mas Button foi campeão por mérito próprio. E não dá para esquecer que Rubens Barrichello tinha um carro igual e não conseguiu bater o inglês. Quando o cara é bom, é bom. Mas as “invejosas” relutam em reconhecer…
– Falando em Jenson Button, digo sem medo de errar: o inglês é o segundo melhor piloto no grid mesmo. Ele é rápido, regular, sabe poupar o equipamento e é agressivo quando necessário. Lewis Hamilton não é “pouca porcaria”, e levou um “laço” desmoralizante de Jenson. Para a infelicidade maior de Hamilton, Button não é só mais rápido que ele: é também muito mais maduro e consistente. Se a McLaren não tivesse “patinado” no início da temporada, Talvez Vettel tivesse um tantinho a mais de dificuldade para conquistar o campeonato. O problema é que Vettel é mais rápido, mais regular, sabe poupar o equipamento tanto quanto Jenson e é mais agressivo quando necessário. E amadureceu muito do ano passado para cá…
– Sobre Lewis Hamilton, aliás, pairaram muitas críticas neste ano. O rapazinho “surtou” completamente, achou que estava andando de auto-choque e saiu batendo em tudo e em todos. Ganhou uma quantidade considerável de punições, passou de unanimidade a contestado e “apanhou” miseravelmente de seu companheiro de equipe. Rápido como poucos em classificações (porém, superado por Vettel, quase um Ayrton Senna nesse quesito), lhe falta “cabeça fria”, regularidade e consistência nas corridas. Seu desequilíbrio psicológico, que costumava se manifestar na reta final do campeonato, começou bem cedo neste ano. Talvez por, pela primeira vez, não ter um bom carro (pelo menos no início da temporada), talvez por ser superado pela primeira vez por seu companheiro (ele “peitou” Fernando Alonso logo em seu primeiro ano e venceu), o fato é que Hamilton esteve à beira do descontrole na maior parte da temporada. Suas brigas com Felipe Massa (inocente em quase todas as vezes nas quais se bateram) chegaram a ser patéticas. Lewis conseguiu irritar até mesmo seu “padrinho” Ron Dennis… As más línguas falam que o sucesso lhe “subiu à cabeça”, que a namorada (atualmente ex, Nicole Scherzinger) artista atrapalhava, que o empresário do showbiz não sabia o que fazia, que inflava seu ego, que os conselhos de seu pai faziam falta… Enfim, ele se destacou mais pelos aspectos negativos de sua vida pessoal do que pelo seu talento.
– Fernando Alonso sucumbiu novamente à bagunça da Ferrari. Ele deve ter saudades da enxuta e organizadíssima equipe Renault de antigamente, que conseguia projetar um bom carro e fazer ótimas estratégias. Também, com o mafioso truculento – mas competente – Flavio Briatore comandando tudo fica bem mais fácil… Já Stefano Domenicalli tem muuuuito o que aprender. Isso de conseguir aprender, algum dia. É numa ocasião dessas que a gente admira ainda mais o Jean Todt… Depois que ele saiu, o “macarrão” ferrarista “passou do ponto”… De qualquer forma, Alonso fez o que dele se esperava: arrasou implacavelmente Felipe Massa (neste ano nem precisou de ordem do boxe), frequentyou os pódios com alguma regularidade e chegou a ganhar uma corrida. Falhou em várias ocasiões, também, mostrando que é bom mas é humano. E que não é fácil fazer a Ferrari vencer – Michael Schumacher que o diga.
– Já Felipe Massa conseguiu fazer um campeonato ainda pior que o de 2010. Completamente subjugado por Alonso, foi pouco combativo mesmo levando-se em consideração o péssimo carro que Ferrari lhe deu. É triste falar isso (ainda mais para mim, que sempre admirei seu estilo de pilotagem), mas Massa nunca mais foi o mesmo após seu acidente. Infelizmente, alguma coisa se perdeu, e talvez não volte nunca mais. Torço para que o brasileiro se recupere, mas tá difícil… A não ser que algum milagre aconteça, 2012 deve ser seu último ano na Ferrari.
– Por falar em brasileiro, e em último ano… Rubens Barrichello não merece passar pelo que está passando. O quarto maior piloto brasileiro de todos os tempos (só superado por Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, e isso não é pouco), Rubinho merecia encerrar a carreira com dignidade. Ficar “mendigando” uma vaga para correr em equipes duvidosas – e a Williams de hoje é uma das mais duvidosas… – não faz jus à sua bela carreira. Na verdade, Barrichello deveria ter encerrado a carreira após 2008, quando fez um belíssimo campeonato. Sairia por cima, como merece. O problema do brasileiro é que lhe falta a lucidez e a maturidade (aliás, isso lhe faltou durante toda a sua carreira) comparáveis com seu talento. É um grande piloto, e não deveria passar por essas situações constrangedoras. Ele deveria estar brigando pelas primeiras posições, não pelo 12º lugar…
– Aliás, a situação está bem complicada para os brasileiros na F1. Nada mais do que o reflexo da situação deprimente do automobilismo brasileiro. Não se tem mais incentivo, a CBA é uma bagunça com sanhas arrecadativas e o esporte (com excessão da Stock Car, que eu abomino) está praticamente morto. A não ser que o cara seja “podre de rico” para correr de Lamborghini ou Aston Martin ou queira dirigir um caminhão… De monopostos, praticamente só a F-Future de Felipe Massa, que já disse que tem dificuldades para preencher o grid. E isso aparece com bastante ênfase na participação tupiniquim na categoria máxima do automobilismo: para quem já teve 5 ou 6 pilotos na F1, o Brasil hoje pode ficar com apenas 1 (enquanto Massa se sustentar, pois Rubinho deve parar e Bruno Senna é capaz de nem emplacar 2012). E não tem ninguém prestes a chegar, pois Lucas di Grassi não conseguiu mais do que correr 1 ano pela fraquíssima Virgin, e Luiz Razia não tem perspectiva de conseguir alguma vaga logo.
– Bruno Senna, aliás, conseguiu se afastar mais um pouco da vaga na equipe Lotus para 2012. Em uma disputa com Michael Schumacher, o brasileiro tocou sua asa no pneu traseiro da Mercedes do alemão, em uma manobra bizarra, tomando uma punição e acabando com qualquer chance de fazer uma boa prova. O pior foi ouvir o pessoal da RGT dizendo que a culpa foi de Schumacher… Bruno é um caso sui generis: após a morte de seu tio ficou muito tempo parado, começou profissionalmente no automobilismo muito tarde, e conseguiu chegar à F1 muito à custa de seu sobrenome. Mas, tirando alguns bons desempenhos em classificações, não mostrou nada demais em corridas, e ainda acumulou acidentes. Muitos desses acidentes foram provocados por sua inexperiência (ou falta de habilidade, vai saber…), outros foram azar. Ou até mesmo por começar no meio do “bolo”, por se classificar de 10º para trás. O problema de Bruno é que até o pagante Vitaly Petrov acabou tendo desempenho bem superior ao seu, e isso não é bom. A equipe já se prepara para dar nova chance a Romain Grosjean, a não ser que Bruno descarregue um “caminhãozinho de dinheiro” na Lotus. Pessoalmente, se eu precisasse escolher, analisando puramente o desempenho do brasileiro, eu não o manteria na equipe. É triste dizer isso, e o que eu mais queria era ter um brasileiro para poder torcer por vitórias e títulos, mas seu desempenho não o qualifica para tal.
– Por falar em desempenho, tirando alguns azares, há de se enaltecer o veterano Michael Schumacher. A “urubuzada” caiu matando em cima do alemão no ano passado, dizendo que ele já era, e coisa e tal. Pois tiveram que “engolir” tudo o que falaram. Schummy mandou muito bem neste ano, e não fosse por alguns “barbeiros” (pode colocar Lewis Hamilton e Bruno Senna nessa lista) poderia ter igualado e até superado seu companheiro, o excelente – e consistente – Nico Rosberg. E olha que o carro da Mercedes, neste ano, foi bem pior que a média. Comia pneus com a voracidade de um adolescente em uma pizzaria rodízio, e era bem desequilibrado. Porém, Schumacher já tem experiência em “levantar” equipes (tirou a Ferrari de uma “fila” que já durava 21 anos). Eu apostaria nele. Correm boatos que deve renovar até 2013. Dá-lhe Schummy!!!
– E tem gente que fala mal de piloto pagante. Gente, hoje em dia, na F1, tirando os “figurões”, todo mundo é pagante. Inclusive o espetacular Kamui Kobayashi e o ótimo Sergio Pérez, além de Adrian Sutil e o “hooker of the Year” Paul Di Resta. Claro que existem os Karthikeyans e D’Ambrosios da vida. Mas não é porque o cara consegue um bom patrocínio que ele deixa de ser bom piloto. Até por acreditarem nos caras, as empresas gastam um dinheiro para financiar suas carreiras.
– Kamui Kobayashi é um dos meus ídolos no automobilismo. Consigo enxergar no japonês um arrojo fora do normal (como conseguia enxergar em Robert Kubica, por exemplo), mas muito mais do que isso. Ele é regularíssimo, apesar de extremamente veloz, e conquistou pontos importantíssimos para a Sauber. É veloz como Lewis Hamilton, mas muito mais equilibrado mentalmente. Fez algumas das mais belas ultrapassagens que já vi, mas dificilmente se envolve em acidentes (afora, claro, quando vira “alvo” dos “barbeiros”). Eu aposto que se dessem um bom carro para Kobayashi-san, ele poderia tranquilamente ser o primeiro japonês campeão de F1. Porque talento não lhe falta…
– E Peter Sauber sabe o que faz… O tal do Sergio Pérez é muito bom, também. Estreando em uma equipe pequena, com um carro meia-boca, o mexicano conseguiu belos resultados. Rápido e consistente, é uma espécie de “filhote de Jenson Button“. Até para a Ferrari já foi cotado, sinal que tem “bala na agulha”.
– Uma das notas negativas do ano diz respeito a Robert Kubica. Sem dúvida um dos pilotos “top 5” da categoria, o polonês sofreu um seríssimo acidente quando corria de rali. Quase perdeu o braço direito, lesionou-se seriamente e não se tem certeza de que voltará a dirigir um carro de corridas, que dirá um F1. Kubica é um daqueles pilotos que fazem valer a pena assistir as corridas, por seu arrojo, sua velocidade e sua competitividade. Infelizmente, uma besteira (quem deixou o cara correr de rali?) pode ter encerrado sua brilhante carreira.
– Uma equipe que evoluiu demais (e isso tem sido constante) foi a Force India. Vijay Mallya não entrou na categoria para brincar, e montou uma ótima equipe, melhor que muitas com anos de tradição. Escolheu dois pilotos excelentes, o alemão Adrian Sutil (que admiro bastante) e Paul Di Resta (que mostrou muito talento em seu ano de estreia). O carro melhora a cada ano e a equipe dá aulas de competência e organização. Coisas que faltam em equipes maiores, até…
– A Williams mancha sua história vencedora com seus últimos anos. De uma das maiores e mais tradicionais da F1, virou uma equipe “nanica”. Difícil reconhecer nela algum traço de competência ou capacidade, à excessão de Rubens Barrichello, que nem deve permanecer para o ano que vem. É deprimente. O velho Franck Williams (“o último dos garagistas”) deveria ter feito como Ron Dennis, se associando a uma montadora. Pelo menos assim ele teria recursos para desenvolver um equipamento decente. Do jeito que está hoje, chega a dar raiva. Ano que vem deve entrar mais dinheiro na equipe, além dos motores Renault. Se nao melhorar com isso, é hora de dar “tchau tchau”…
– As “nanicas”, cada vez mais, mostram que são totalmente dispensáveis. Chega a ser ridículo ver aqueles carros (se é que dá para chamar de carro umas porcarias que “levariam pau” de muito carro de GP2) atrapalhando os pilotos que tentam correr de F1. Se ainda servissem para revelar algum talento… O problema é que todas as vagas das “nanicas” são pagas. E os pilotos que têm patrocínio e algum talento vão para as equipes médias. É a fome e a vontade de comer…
– Para finalizar, deixo aqui o meu protesto contra as regras esdrúxulas que transformas a F1 em algo extremamente artificial. Mil e duzentas ultrapassagens em uma corrida nada significam, se conseguidas à base da covardia (asas móveis que só podem ser utilizadas por quem ataca, nunca por quem se defende). Os novos pneus, sim, deram alguma emoção às corridas. As asas não. Tiram a naturalidade e mascaram o talento de quem realmente tem talento. O tal do KERS também é dispensável. O que poderia ser feito, e que seria realmente legal, é mudar os circuitos. É bem fácil comparar os circuitos de Spa-Francorchamps, Montreal e Interlagos, por exemplo, com aqueles desenhados por Hermann Tilke. Para acontecer uma corrida decente no “tilkódromos”, só falta a FIA espalhar tachinhas na pista. Porque os circuitos são lindos para se olhar, mas péssimos para se correr. Se mudassem as pistas nem precisaria de KERS, asa móvel e o caramba. As corridas seriam naturalmente boas. Mas Tilke é “amigão” de Bernie Ecclestone, que acha que o espetáculo é mais importante que o esporte. O cara é bilionário, quem vai discordar dele?
Eu discordo.
O brabo é ficar até mais da metade de março sem poder assistir às corridas. Junta com as férias do futebol, e a coisa fica bem ruim… Mas paciência. Esperamos que no ano que vem a coisa melhore. Porque este ano, na minha opinião, foi brabo…
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